Finalmente tinha chegado o tão
ansiado e tão adiado dia da estreia num trail!
Infelizmente, e após uma outra
estreia na semana anterior, em que eu e Anita participamos em eventos
diferentes no mesmo dia, tive de ir ao trail do grupo desportivo dos 4 caminhos
sem ela, que tinha uns compromissos inadiáveis.
Este trail, realizado em alfena,
tinha 3 alternativas: longo, com 22 km´s, curto, com 10 e uma caminhada de 9
km´s.
Como era a primeira vez que iria
participar, optei pela inscrição no trail curto.
Cheguei cedo ao local da partida,
onde foi possível estacionar o carro facilmente num dos muitos lugares
disponibilizados para o efeito, ainda que uma parte da estrada estivesse já a
ser vedada para passagem de uma porção do percurso inicial e final. O
levantamento do kit de participação foi feito de forma célere e sem
dificuldades, pois, além de estar devidamente sinalizado o local, tinha várias
pessoas a tratar das respectivas entregas.
Tratado do pormenor logístico,
faltavam cerca de 90 minutos para a hora da partida do trail curto (os
diferentes percursos partiam a horas diferentes). Durante este tempo aproveitei
para descansar um pouco lendo a revista que ofereceram no kit de participante e
ainda para ver os produtos dos diferentes expositores que se encontravam no
recinto (sapatilhas, roupa técnica, mochilas, etc).
Quando faltavam cerca de vinte
minutos para partida, já após ter assistido à saída dos atletas do trail longo,
comecei a preparar-me e dirigi-me ao controlo zero para dar entrada no local de
início. Tudo feito sem stress nem confusões.
À hora marcada foi dado o “tiro
de partida” para a distância curta. E assim começava a minha aventura no
terreno. Os primeiros metros eram a descer em alcatrão para logo curvar à
direita e iniciar uma ligeira subida já em terra e pedra. Agora sim, podia
dizer que estava num trail! Só faltava aguentar até ao final!
Como de costume tinha partido do
final do grupo, mas neste caso, talvez por causa do tipo de percurso que se
iniciou (nomeadamente a subida), comecei a passar alguns companheiros sobretudo
para procurar o meu local confortável para correr: como não estava habituado a
este tipo de terreno acidentado, a minha preocupação principal era não me
magoar, logo senti grande necessidade de ir avaliando muito bem o piso e onde
colocava os pés, o que significava ter de ir olhando para o chão o mais longe
possível. Por isso, não queria ir no meio de muita confusão, demasiado perto de
outras pessoas, e daí ter tentado passar alguns participantes até conseguir
encontrar o tal posto onde me sentia bem para cumprir com a preocupação
principal.
Com atenção ao terreno, com
música nos ouvidos (como ia sozinho decidi levar o mp3) e com o enfrentar das
dificuldades que iam aparecendo – desde subidas em que tive de me agarrar a
ervas e pedras até descidas em que vi algumas pessoas praticamente a
sentarem-se no chão para ter tracção, aliado ao piso escorregadio nas zonas
rochosas (e eram muitas) devido à chuva que tinha caído toda a noite e ainda se
fez sentir durante o percurso – o tempo foi passando. Refiro o tempo, pois
desta vez não levei qualquer aparelho com que pudesse controlar a distância:
como a Anita não foi, não levou o relógio gps dela e como estava a chover eu
decidi não levar o telemóvel (o que, tenho de admitir, não deveria ter feito,
pois correr em montanha apresenta perigos que na estrada não existem, e devemos
ter sempre modo de pedir ajuda – sei disto relativamente ao btt e esqueci-me
naquele momento para o trail). Por um lado isto acabou por ser bom: não sabia a
distância percorrida, ia apreciando a paisagem e ultrapassando as dificuldades,
concentrado apenas nisso.
Foi por isso que, com alguma
alegria mas sobretudo espanto, cheguei ao abastecimento, localizado aos 5 km´s,
precisamente a meio do percurso que eu tinha de realizar. Lembro-me de pensar,
apesar de já muito cansado: “Já??”. Tinham passado 38 minutos desde o início e
estava a meio do percurso, apesar das dificuldades (leia-se subidas) já
ultrapassadas. Parei no abastecimento para beber água e uma bebida isotónica
que disponibilizaram e ingerir uma placa pequena de marmelada. Após este
reabastecer de energia, voltei a fazer-me ao caminho.
O trilho após o abastecimento era
muito bom: uma pequena descida em single track, no meio de silvas, com uma
vista fantástica e, após uma curva à esquerda, corrida pela lateral do monte
com toda a nossa direita desimpedida de obstáculos (ainda que não fosse
possível prestar grande atenção ao cenário pois era um single estreito e uma
distracção podia levar a uma queda pela ribanceira).
Mais à frente nova subida curta,
mas tão ingreme e com a terra tão solta que obrigava a agarrar a uns ramos de
umas árvores que ali se encontravam. Após mais esta dificuldade, novamente
corrida em plano para mais à frente enfrentar nova subida.
Ao longo de todo o percurso,
muito bem sinalizado, a organização colocou voluntários que ajudavam a que
ninguém se enganasse nos pontos com entroncamento de vários caminhos. Estes
voluntários, na sua maioria jovens habituados a competição, aproveitavam também
para incentivar e encorajar os participantes. Apesar de cada um saber de si e
ter a sua forma de lidar com o cansaço e com os obstáculos, sabe sempre bem
ouvir alguém a dar um “puxãozinho” por nós.
E eis que após mais umas subidas
e descidas, consigo visualizar um dos edifícios da escola onde começou e ia
também terminar este trail. O meu pensamento foi “a escola já é ali? Mas não
vai ser para ir já para lá. De certeza que ainda vamos dar uma grande volta
antes de lá chegar!”. Puro engano meu. Tinha ainda de facto uma volta, mas
sobretudo porque não havia caminho directo para lá sem ser por estrada e, como
estávamos num trail, convinha lá chegar por terra.
E assim foi que, ao final de
1h16m, cortei a meta, muito satisfeito por cumprir os dois objectivos
principais, não me magoar e chegar ao fim, e muito surpreendido por, apesar de
não ir com nenhum tipo de preocupação nesse sentido, ter cumprido o percurso
num tempo que, para mim, foi muito curto.
No final, a organização
disponibilizou mais umas bebidas e uns alimentos para recuperação do esforço,
massagens e banhos (estes dois não utilizei, não posso comentar) e procedeu à
entrega de prémios aos vencedores de cada vertente.
Para finalizar, quero deixar aqui
uma palavra para os elementos do grupo desportivo dos 4 caminhos: já temos
participado noutros eventos deles mas desta vez a organização do trail foi
também uma estreia para este grupo. A preocupação com a logística, com os meios
e com o respeito pela natureza e pelas pessoas é uma imagem de marca desta
associação. Os nossos parabéns e louvores por manterem esta postura e pelos
resultados que têm obtido!
Concluindo, fiquei realmente fã
do trail running (dando razão a todos os amigos que há meses nos tentavam
convencer a participar). Iremos tentar participar em mais. Acreditamos que a
maior dificuldade se vai prender com as distâncias: é que poucos são os que
apresentam uma opção curta, como este. E para quem é iniciado correr 20 ou mais
km´s em trail pode levar a desistências e, certamente, a frustrações. Talvez
algo a ponderar pelas organizações de trails: ofereçam sempre uma opção mais
curta - nem toda a gente tem capacidade ou coragem para fazer percursos longos.
E se o objectivo também é divulgar e recrutar mais pessoas para a modalidade,
convém não alienar ninguém.